7.4 O VENTO GEOSTRÓFICO

        O vento geostrófico é um vento horizontal, não acelerado, que sopra ao longo de trajetórias retilíneas, que resulta de um equilíbrio entre a força de gradiente de pressão (horizontal) e a força de Coriolis. Este equilíbrio só é aproximadamente possível em altitudes nas quais o efeito do atrito seja omissível (isto é, acima de poucos quilômetros). O efeito do atrito, significativo nas proximidades da superfície da Terra, será discutido mais adiante.

        A figura 7.9 ajuda a mostrar como o equilíbrio entre a força de gradiente de pressão e a força de Coriolis é atingido. Sob a ação da força de gradiente de pressão, perpendicular às isóbaras, as parcelas de ar começam a ser aceleradas da área de maior pressão para a área de menor pressão. Logo que o movimento se inicia, a força de Coriolis causa um desvio para a esquerda no Hemisfério Sul (e para a direita no HN). A parcela continua a se acelerar, a velocidade aumenta e a força de Coriolis também, aumentando o desvio para a esquerda. Eventualmente as duas forças chegam ao equilíbrio, de modo que o vento passará a ter velocidade constante, paralela às isóbaras. Diz-se que foi atingido o balanço geostrófico.

Fig. 7.9 - O vento geostrófico (HS)

        A partir desse balanço de forças, obtém-se uma relação simples entre pressão e direção do vento, conhecida como lei de Buys Ballot: "de costas para o vento no HN a pressão baixa estará à esquerda e a pressão alta à direita. No HS a pressão alta estará à esquerda e a pressão baixa à direita." Como essa lei é válida para vento em ar superior, deve-se ter cuidado ao analisar ventos em superfície, pois numerosos efeitos geográficos podem gerar perturbações locais que interferem com a circulação de maior escala.

        Na atmosfera real os ventos nunca são puramente geostróficos. Contudo, a importância do vento geostrófico idealizado está no fato de que ele dá uma aproximação útil dos ventos superiores reais. Assim, medindo o campo de pressão em ar superior, os meteo-rologistas podem deter-minar a direção e velocidade do vento, pois a direção é paralela às isóbaras e a velocidade só depende do espaçamento entre isóbaras (Fig. 7.10). Até mais útil é o cálculo inverso: a determinação da distribuição da pres-são a partir de medidas do vento. Essa inter-relação entre pressão e ventos aumenta a confiabilidade das cartas de ar superior, pois fornece mecanismos de verificação. Além disso, minimiza o número de observações diretas ne-cessárias para descrever adequadamente as con-dições em ar superior, onde dados precisos são mais caros e difíceis de obter.

        Os maiores desvios do vento real em altitude em relação ao vento geostrófico ocorrem quando o vento percorre trajetórias com grande curvatura, assunto considerado na próxima seção.

Fig. 7.10 – Mapa de isolinhas de altura da superfície isobárica de 500 mb.

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